Coloquio 49 (Garcia da Orta)

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Coloquio 48
Garcia da Orta, Coloquios dos simples, 1563
Coloquio 50


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COLOQUIO QUADRAGESIMO NONO
De tres maneras de sandalo


INTERLOCUTORES
RUANO, ORTA


RUANO

He o sandalo muyto neseçario, por ser muyto cordial, e com ser frio cheira bem (cousa que em poucas mézinhas se acontece) ; e por isto parece mal a Mateolo Senense o que dizem os Arabios da compleisam do sandalo. E o sandalo vermelho dizemme nesta terra que he avido por mais frio, e a causa disto he porque não tem cheiro, e por entender milhor isto, folgaria de saber o nome delle acerqua das linguoas da terra onde o ha, e da Arabia ; e saber em que terras nasce, e saber se he em uso de medecina acerqua da gente desta terra.

ORTA

O sandalo nasce acerqua de Timor, onde ha a maior cantidade ; e he chamado chandam : com este nome se chama por todas as terras visinhas a Malaqua ; e os Arabios, como pessoas que cheiravam o comercio destas terras, corrompendo o vocabulo, lhe chamaram sandal. Todo o Mouro de qualquer naçam que seja o chama asi ; e os Canarins e Decanins e Guzarates o chamam cercandá. Nacem e crecem os arvores do sandalo em Timor, donde he a maior cantidade ; e sam matas que não se acabam de gastar, asi de huma banda da ilha como da outra.

RUANO

E todo o sandalo nasce nestas ilhas somente ?

ORTA

Em outras partes nasce, como vos direi ; e porém em Timor não nasce este sandalo vermelho, senão em Tanasarim


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e na costa de Charamandel [1], scilicet, em alguns cabos della. E a feiçam deste arvore do sandalo vermelho, até ao presente, não o pude saber ; mas sei certo que vem dali todo o sandalo vermelho, o qual se guasta muyto pouquo nesta terra, porque não o gasta a gente mais que pera febres, e algum se leva para Portugal e pera as bandas do ponente. E tambem se gasta cá o vermelho em pagodes ou idolos, e amde ser os páos muyto grandes ; e por isso quanto o páo he maior, que entram mais pouquos páos em hum bar (que sam quatro quintaes) tanto val mais preço. E quanto he ao sandalo branquo e amarelo, muyto grande cantidade se guasta em toda a India ; porque toda a mais gente, ora sejam Mouros ora Gentios, se untam com sandalo desfeito em aguoa, e pisado em pedras, que pera esse mister tem feitas ; e asi untam todo o corpo até que se seca pera estarem frios, e cheirarem bem ; porque esta terra he muito quente, e a gente della muyto amigua de cheiros.

RUANO

Diz Mateolo Senense que nace em ambas as Indias, scilicet, na que está primeiro que o Ganges, e na que está alem do Ganges.

ORTA

Não nasce o sandalo vermelho senão na India, que está ante do Ganges [2] (o qual rio a gente da terra chama Gamgua), e outro sandalo branquo e amarelo nasce alem do Ganges (1).

RUANO

Como sabeis que este páo vermelho he sandalo, e não brazil, pois nenhum delles tem cheiro ?

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  1. A mesma orthographia se encontra em outros escriptores portuguezes, e parece representar correctamente a pronuncia de então, que depois se alterou, sem rasão, para Coromandel.
  2. Isto é um simples equivoco, pois disse antes encontrar-se em Tenasserim, que elle sabia muito bem estar alem do Ganges.


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ORTA

Verdade he que nenhum cheira bem, mas o brazil he mais doce, e mais tinge ; e o sandalo nem he doce, nem tinge. E deste modo perdeo hum meu amigo mercador, porque trouxe sandalo vermelho por brazil, e os tintoreiros lho compráram, e como viram que não tingia, tornaramlho a engeitar, e assi ficou por vender a mercadoria.

RUANO

Não val mais dinheiro o sandalo vermelho que o brazil ? (2).

ORTA

Val mais o sandalo vermelho, porém gastase pouco, e do brazil guastase muyto ; e por isto quando vem muyto sandalo val pouquo. E tornando a dizer donde nasce o sandalo branco e amarelo, diguo que em Timor (a qual ilha tem muytos portos de huma banda e de outra) ; e diguo que o de Mena, que he hum porto, he o milhor de todos, e tem menas páo que os outros : e Matomea, que he outro porto, tem hum sandalo amarelo, mas tem muyto páo. E diguo ter muyto páo, ter pouco cerne, porque no cerne está o cheiro ; e o outro porto dito Camanace tem ruim sandalo, porque he de muyto páo e de pouco cerne, ou amaguo : e desta maneira he o sandalo de Cerviaguo (outro porto asi chamado). E os mercadores esprementados vendo o sandalo loguo dizem donde he, e se tem muyto páo ou pouquo. E tambem ha sandalo em Verbali (que he hum porto de Jaoa), e ha nelle sandalo amarelo e branco, e tem muyto forte cheiro, mas dura este sandalo pouquo ; porque, se está hum anno sem se ven der, he neseçario cortarlhe o páo, e ficar mais no cerne. E tambem se achou em Macaça [1] huma mata de sandalo, e guastouse já, ou por dizer mais verdade era tam ruim que o não compravam, e por isso não foram lá por elle.

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  1. Talvez Macassar ?


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RUANO

Ha de duas maneiras sandalo em Timor, ou he todo branco ? E qual he mais estimado ?

ORTA

O mais estimado e de milhor cheiro he o amarelo, mas na parte onde o sandalo he milhor, que he em Timor, ha pouquo do amarelo ; e vem entre 50 páos hum. E se viesse muyto venderseia sobre si, e valeria mais. E o outro sandalo amarelo, que dixe, he somenos, e duralhe o cheiro mais pouquo, o que não acontece no de Timor, a esse pouquo que de lá vem ; posto que falando o outro dia com hum mercador, que sabe bem essas terras, me disse, que na parte que he mais descuberta do sol ha muyto sandalo amarelo, e mais ambas as maneiras do sandalo tem os arvores semelhantes, que nós nam conhecemos a deferença que ha entre os arvores : E pode ser que conheça esta deferença a gente da terra, que trata com estes arvores.

RUANO

Digua a feiçam do arvore, e se da fruto ou não, e se da flores.

ORTA

O arvore do sandalo he tamanho como huma nogueira ; e a folha he muyto verde, e he feita como a da aroeira ; deita frol azul escura, e dá huma fruta verde do tamanho de cereja, e cae azinha, e he primeiro verde, e depois preta e sem sabor.

RUANO

Aguora quero eu dizer as duvidas, que tenho do que dizem os autores Arabios e Latinos, pois que os Gregos antiguos o nam conheceram ; e dos Arabios, Rasis [1], posto que o conheceo, não diz que cousa he, senam para que apro-

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  1. Rasis, trat. cap. 23 (nota do auctor).


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veita. Serapiam [1] perfere o citrino a todos, e vos asi o afirmaes, e diz que o vermelho he apos elle : e asi diz outras cousas em que não tenho duvida, somente em dizer que se traz da Siria ; e mais duvido aleguar Galeno, pois delle nam escreveo.

ORTA

Em ambos esses ditos errou Serapiam ; e pois da India he mercadoria pera a Siria, nam he muyto dizer que se trazia della, nam dizendo que nacia nella ; e asi em aleguar Galeno tambem erra, mas esta vez não he a primeira, porque asi o dizem muytas vezes os Arabios, porque nam viam os livros de Galeno, e como ouviam algum grego dizer que Galeno falava na mézinha, loguo o criam. Nem Avicena [2] nam diz cousa alguma do sandalo, em que aja duvida, que ja não tinhaes bem decrarado, nem Avenrroís [3]. Pois asi passa, falai nos Latinos, e dizei alguma duvida se delles tendes.

RUANO

Antonio Musa diz que o sandalo aos Portuguezes o devemos ; que o trazem do campo de Calecut, onde se colhe, e que Calecut he a principal feira que ha na India ; e vós dizeis que o ha em Timor, e o vermelho em Tanasarim, terras confins de Malaca [4].

ORTA

Foy celebrada a cidade de Calecut em estas partes, onde se compravam e vendiam todas as mercadorias, e ali eram trazidas das outras partes, onde vinham os Chins com suas mercadorias, e com elias traziam sandalo mesturado, o qual vendiam ahi, e o levavam pera o ponente ; e como já vos

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  1. Serapio, cap. 346 (nota do auctor).
  2. Lib. 2, cap. 656 (nota do auctor).
  3. Avenrois, 50, Coliget (nota do auctor).
  4. Tenasserim era confim de Malaca ; mas o nosso bom Orta devia saber, que Timor ficava muito longe d'ali.


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dixe outras vezes, a feitoria dos Chins, chamada Chinacota, oje em dia permanece nessa cidade, em a qual os Chins moravam. Mas porque a gente da terra fez huma traiçam aos Portuguezes, quando em principio vieram a esta terra os Portuguezes, e se foram a Cochim, elles estruiram Calecut per muytas vezes ; e asi pouco a pouco se foy estruindo, sendo primeiro cidade muyto chea de riquos Mouros (á mam dos quaes vinha toda esta fazenda) ; e por esta razam diz Antonio Musa que no campo de Calecut nada o sandalo ; e em Calecut não ha campo, senam serras e palmares ao longo da praia ; e o que vem, os Portuguezes o trazem nas suas náos de Malaqua em muita cantidade, donde vem ter a Cochim e a Goa ; e destes portos se reparte para o Malavar e o Canara, e Benguala, e pera o Decam, e pera o Guzarate : e a mais pequena parte vai pera Ormuz, e pera Arabia, e pera Portugal, como vos já dixe.

RUANO

Chamam commumente o sandalo citrino, machazari ou mahazari, e per outros nomes a estes semelhantes ; e por essa causa eu queria saber, que quer dizer este nome ; porque dizem os Frades [1], que em alguns livros de sinonimos se diz machazari scilicet, odoliferi ; e que Serapio diz que, quando se nomea sandalo por excellencia, se entende do citrino ; e em outro cabo dizem os mesmos Frades, que não se acha em Europa sandalo citrino, senam dentro no miolo se acha em muytos páos ; e muytos autores dizem isto asi como Sepulveda [2] ; e diz mais este Sepulveda, que milhor he deitar ametade do pó do vermelho, e ametade do pó do branco ; e mais diz elle, louvando-se, que já vio sandalo amarelo. E de tudo isto me dai a resuluçam, como pessoa que o vio ; e para isto não me deis mais rezam, que a vossa vista.

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  1. Os frades (nota do auctor); os commentadores de Mesué de que já antes fallamos.
  2. Sepulveda (nota do auctor).


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ORTA

De ser mais cheiroso o sandalo amarelo não ha duvida, e de ser de mais preço ; e ha o ahi em muytos cabos, e eu vi já muyto, e muitos outros o viram ; e, porque se cornpra cá na India milhor que em Portugal, não levam lá, e mais por o pouquo cuidado dos boticairos portuguezes, que o não pedem na casa da India, pera que o mandem trazer de cá, e tambem se am de culpar os que fazem estas drogas a elrey em o não mandarem a Portugal. E quanto he ao nome de machazari ou mahazari pareceme (salvo milhor juizo) que quer dizer trazido de Malaca ; ou pode ser que estava escrito mazafrani que quer dizer dos amarelos ou dos açafroados. E, como quer que seja, he noto ser milhor o citrino que todos. E quanto he a deitar ametade do vermelho, e ametade do branco, nam he ser citrino ; antes he milhor deitálo todo branco, porque o branquo he mais cheguado á natureza do citrino ; pois ambos se acham em huma mesma terra, e o vermelho he muyto longe donde nasce o branco. E tambem quero que saibaes que este arvore do sandalo se dá em outras partes, se o prantam, e eu o vi em Amdanager, onde foy trazido para se semear : e he este Amdanager huma cidade do Decam, onde reside o Nizamoxa, cuja he, muytas vezes. E eu o vi ahi, em huma caza de prazer onde ha muytos pomares, arvores de sandalo, e muytas das nossas ; e algumas das nossas dam fruto ; mas este páo de sandalo no arvore não cheirava : e mais me dixeram muitos que o sandalo não cheira, senão des que está escascado e muyto seco.

RUANO

Ha em outras partes sandalo ?

ORTA

Na ilha de Sam Lourenço, e em alguns cabos da costa de Melinde o ha, segundo dizem os negros da terra ; mas depois soube que he hum páo cheiroso, como ha muytos entre nós, e mais não tem os signaes do sandalo. E tambem


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dizem as Malavares que ha na sua terra hum páo cheiroso que parece ser sandalo branquo ; e untamse com elle pera as febres, e chamamlhe os Malavares sambarane (3).


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Nota (1)

O sandalo vermelho é a madeira de uma pequena arvore da ramilia das Leguminosæ, o Pterocarpus santalinus, Linn. f., habitando as florestas do sul da India, tanto da parte occidental, do Canará para baixo, onde Orta o não menciona, como na costa e terras de Coromandel.

A arvore do sandalo vermelho é absolutamente diversa e muito afastada da que produz os outros sandalos, não sendo facil saber por que lhe deram o mesmo nome. Em todo o caso não ha aqui confusão ou invenção de Orta, porque ja antes lhe chamavam assim, e o nome sanskrito, रकतचन्दन, raktachandana, significa a mesma cousa. A madeira, apesar de insipida e inodora, é empregada medicinalmente, como adstringente e tonica, e externamente como refrigerante, empregos similhantes aos que tem o verdadeiro sandalo, d'onde talvez veio o darse-lhe o mesmo nome. Serve tambem na tinturaria ; mas o seu uso principal é, como já dizia Orta, nas construcções, sendo os troncos maiores muito apreciados ainda modernamente para pillares e traves dos templos ou pagodes (Cf. Pharmac., 175 ; Ainslie, Mat. Ind., I, 385 ; Amaracocha, 157 ; Dymock, Mat. med., 237)·


Nota (2)

O brazil, de que Orta falla apenas de passagem, merece no emtanto uma nota especial. Era a madeira de uma arvore da familia das Leguminosæ, Cæsalpinia Sappan, Linn., madeira empregada na tinturaria, e conhecida no commercio europeu, desde os antigos tempos da idade media, pelos nomes de brazil, brésil, em italiano verzino, os quaes se julgaram derivados de brasa ou braise pela côr vermelba da madeira.

É bem sabido, como uma madeira ou diversas madeiras, similhantes a esta, tendo os mesmos usos, e procedendo de varias especies do mesmo genero Cæsalpinia, se encontraram nas terras da America, visitadas pelos portuguezes logo no começo do XVI seculo. E é tambem conhecida a phrase, em que Barros lamenta, que o nome de Santa Cruz — primitivamente Vera Cruz — se mudasse por influencia do diabo


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no de um « páo que tinge pannos ». Deixaremos, porém, esta phrase e as reflexões que poderia suscitar o nome Brazil, dado ás terras de Sancta Cruz. Começando a vir o pau brazil em maior quantidade da America, passou o nome especialmente para a mercadoria nova ; e o antigo brazil da India e outras partes da Asia voltou a ser geralmente designado pelo nome asiatico de sappan ou sapang no archipelago Malayo, o quai parece prender-se ao sanskrito patanga, ou ao maláyalam shappan, que significa vermelho.

O brazil asiatico havia sido conhecido dos portuguezes e designado por este nome antes do descobrimento da America ; e no Roteiro da viagem de Vasco da Gama se lê, que em Tenacar — provavelmente Tenasserim — se encontrava « muito brasyll, o qual faz muito fino vermelho ». Depois de a mercadoria da Asia ser geralmente supplantada no commercio pela de procedencia americana, ainda continuou, no emtanto, aquella a ser conhecida por algum tempo. O brazil de que falla Orta, é evidentemente o asiatico, confundido occasionalmente pelo seu amigo mercador com o sandalo vermelho. E do Lyvro dos pesos se vê tambem, como, no meado do XVI seculo, o brazil era uma mercadoria bem conhecida, tanto em Hormuz como em Malaca.

(Veja-se o que eu disse na Flora dos Lusiadas, 91 ; e Dymock, Mat. med., 251 ; Ainslie, Mat. Ind., II, 450 ; Barros, Asia, I, V, 2 ; Roteiro, 110 ; Lyvro dos pesos da Ymdia, 18 e 39.)


Nota (3)


O sandalo é a madeira de uma pequena arvore da familia das Santalaceæ, Santalum album, Linn., que habita no sul da India, nas florestas de Mysore, Travancore e outras, assim como nas ilhas do archipelaso Malayo, particularmente na de Timor, e na de Sumba, ao sul da de Flores, que foi mesmo chamada por isso a ilha Chandana, isto é, a ilha do sandalo.

O nome santalum e sandalo deriva-se do arabico صندل, sandal, que era, como Orta diz, uma corrupção ou antes um modo de pronunciar e escrever o sanskrito चन्दन, chandana. Por este ultimo nome vem a substancia mencionada no Nirukta, um dos mais antigos commentarios dos Vedas, assim como nos celebres poemas, o Ramayana e o Mahabharata. É igualmente citada no Periplo do mar Erythreu, nas viagens de Cosmas Indicopleustes, e em outras obras antigas. Se o algum ou almug, trazido pelas frotas de Salomão e de Hiram do paiz de Ophir, era igualmente esta madeira, é questão diversa e um pouco mais duvidosa.

Distinguiam já os escriptores sanskriticos duas variedades de verdadeiro sandalo, o amarello ou citrino, chamado pitachandana, e o


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branco, chamado srikhanda ; mas não procediam nem procedem estas duas variedades de duas arvores ou especies diversas, como Orta pareoe indicar ; e o citrino, mais carregado em côr, pesado e aromatico, é simplesmente o cerne perfeito de alguns troncos. Os usos do sandalo são bem conhecidos, servindo para o fabrico de cofres ou moveis, trabalhados e entalhados, principalmente nos templos e edificios sagrados, entre os quaes se podem citar as famosas portas do templo de Somnath, ainda conservadas em Agra, e que se diz terem mais de mil annos. Tinha egualmente empregos medicinaes, sendo considerado frio e secco, cardiaco ou « cordial », tonico, adstringente, alexipharmico, resolutivo, e applicavel tambem, misturado com leite, no tratamento das gonorrhoeas. Gastava-se e gasta-se, sobretudo, como perfume, reduzido a pó em umas especie de pequenas mós de pedra, e misturado depois aquelle pó com agua rosada e outros ingredientes. Igualmente se consumia na cremação dos cadaveres dos hindus muito ricos, que os outros naturalmente não podiam esperar este luxo post-mortem.

Orta, á parte uma phrase curta e duvidosa, menciona unicamente o sandalo de Timor, e em segundo plano o de Java e outros pontos do archipelago Malayo. O mesmo faz Duarte Barbosa, fallando do « Sandalo branco e côr de limão, que nasce em huma ilha chamada Timor ». E o mesmo faz tambem Camões, limitando-se a mencionar o d'aquella região :

Alli tambem Timor, que o lenho manda
Sandalo salutifero e cheiroso.

É incontestavel, pois, que a ilha de Timor era então a principal e mais importante origem do sandalo do commercio ; e parece, que as arvores das florestas do sul da India seriam pouco conhecidas e aproveitadas. No emtanto, o Santalum album não é raro na India, e a madeira d'esta procedencia alcança hoje nos mercados os preços mais elevados, e passa por ser superior á de Timor e outras terras de leste. É possivel tambem, que se não tivesse feito a identificação entre a arvore da India e a das regiões mais afastadas ; e inclino-me a aceitar esta hypothese. Na ultima phrase do Coloquio, Orta diz, que os malabares tinham na sua terra uma arvore, que parecia ser sandalo branco, e da qual se serviam para os mesmos usos medicinaes ; e em um dos Coloquios anteriores (II, p. 50 e 64) fallou de uma madeira das proximidades do cabo Comorim, chamada aguila brava, que, segundo todas as probalidades, era o proprio sandalo. Em resumo, o Santalum album da India, não parece haver dado logar por aquelles tempos a uma exploração activa ; e sobretudo não estava bem clara a sua identidade com a madeira, mais conhecida e celebrada, procedente da ilha de Timor. (Cf. Pharmac., 540 ; Crawfurd, Dict., 375 ; Ainslie, Mat. Ind., I, 376 ; Dymock, Mat. med., 751 ; Duarte Barbosa, Livro, 385 ; Lusiadas, X, 134.)

Notes de Michel Chauvet

Le santal de Timor, mis en culture en Inde, est Santalum album. On distingue le santal blanc, qui est l'aubier, et le santal jaune (ou citrin), qui est le bois de cœur. De nombreuses autres espèces de Santalum ont été exploitées ensuite.

Le santal rouge est Pterocarpus santalinus.

Le brésil a d'abord été une espèce asiatique, Caesalpinia sappan (aujourd'hui Biancaea sappan), puis une espèce brésilienne, Caesalpinia echinata (aujourd'hui Paubrasilia echinata). Cette dernière espèce allait donner son nom au Brésil.